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Foto: Divulgao |
“Garoto, voc canta muito. Vai para o Rio, voc tem o mundo pela frente”. Esse conselho do saudoso Cauby Peixoto mudou para sempre a vida de Ivanilton de Souza Lima. Levando a srio as palavras do dolo, o jovem saiu do Recife para se transformar em Michael Sullivan – criador de um legado musical atemporal, com mais de 300 canes eternizadas nas vozes de cones da msica e no imaginrio afetivo de milhes de brasileiros. Nesta sexta-feira (9), o artista de 75 anos celebra sua trajetria no Projeto Seis e Meia com o show My Life – Retratos e Canes, no Teatro do Parque.
Os primeiros sinais desse talento excepcional apareceram cedo. Ainda com seu nome de batismo, participou de alguns concursos de calouros e ganhou o primeiro lugar no Variet, da Rdio Jornal do Commercio, recebendo como prmio a carteira profissional da Ordem dos Msicos do Brasil e um contrato com a TV Jornal do Commercio. “At hoje me pergunto como tive coragem e fora para cantar ao vivo naquela poca, to novo”, questiona-se, em conversa exclusiva com o Viver. Na mesma poca, compartilhava o palco dos auditrios com estrelas em ascenso como Roberto Carlos e Elis Regina. Encontros que hoje soam como premonies do que o aguardava.
Determinado a conquistar seu espao, a chegada ao Rio reservou ao jovem artista uma realidade brutal. Sem teto e sem recursos, Ivanilton sobreviveu por dez meses nas ruas da capital fluminense. “Mesmo assim, no quis voltar. Eu dizia: ‘Vou ficar aqui’”, relembra. Sua perseverana foi recompensada quando, um ano depois, o destino o colocou no caminho de Tim Maia. “Ele me apresentou ao som de James Brown, Raul Seixas me mostrou o rock e Renato Barros me acolheu. Aqueles caras me tratavam como irmo mais novo, ou quase como um filho”, conta, emocionado.
E os mestres da produo musical comearam a not-lo. Mauro Motta, um dos maiores do rock brasileiro, o levou para os estdios como discpulo. “Todo mundo dizia: ‘Voc tem que produzir, tem que compor’. E foi o que fiz”, destaca. Dessa forma, surgiram suas primeiras composies, o ingresso no grupo Os Selvagens e o posto cobiado como guitarrista e vocalista no Renato e Seus Blue Caps, do “paizo” Renato Barros. Faltava apenas um detalhe: um nome altura da carreira que despontava. “Perguntaram qual seria meu nome artstico. Eu disse: ‘Michael’, por causa do Michael Jackson, ainda um garoto. Mas faltava um sobrenome. Algum abriu uma lista telefnica, viu ‘Sullivan’, e assim nasceu Michael Sullivan”, explica.
Ele pouco imaginava que aquele nome escolhido ao acaso estamparia as fichas tcnicas das maiores produes da TV brasileira. Tudo comearia com My Life, cano que integrou a trilha da novela O Casaro, em 1976, e hoje inspira o ttulo da turn. O compacto com a msica superou a marca de um milho de cpias vendidas.
Esse foi apenas o primeiro captulo de uma histria que o consagraria como compositor das vozes mais importantes do pas, como Gal Costa e Tim Maia em Um Dia de Domingo, Sandra S em Retratos e Canes e Rosana em Nem Um Toque. Todas essas prolas esto reunidas no repertrio do show. “So 25 msicas, mas eu poderia cantar 50, 60, at 80, e o pblico acompanharia. s vezes eu mesmo me surpreendo”, garante Michael.
Toda vez que pisa em sua terra natal, ele relembra o menino que um dia ouviu as palavras profticas de Cauby. “Basta comear a conversar, e meu sotaque volta em meia hora”, celebra, em uma mistura de orgulho e nostalgia. “Os trofus ficaram com Michael Sullivan, mas foi o Ivanilton quem tomou as pancadas da vida e no desistiu”, declara, como lados A e B de um disco histrico da MPB.