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Foto: Cau Branco/Divulgao |
No comeo dos anos 1990, Chico Csar estava cheio de msicas para gravar. O paraibano, ento radicado em So Paulo h quase uma dcada, queria misturar suas razes de Catol do Rocha com a vibe pop da capital paulista. Mas o dinheiro era curto e o apoio das grandes gravadoras, inexistente. Sem deixar a falta de recursos impedi-lo, transformou o palco em “estdio” para lanar Aos Vivos, seu disco de estreia. Hoje, ele celebra o aniversrio de 30 anos do lbum, em show especial no Teatro do Parque, s 17h30 e 20h.
Foi atravs do msico e produtor Egdio Conde que o projeto ganhou forma. Ex-guitarrista de bandas progressivas como Moto Perptuo e Som Nosso de Cada Dia, Egdio convenceu Chico a registrar suas apresentaes ao vivo na Funarte. Assim, em trs noites de junho de 1994, nascia Aos Vivos. “Pouca gente imaginava o que poderia acontecer. Mas quando o lancei, um ano depois, ele entrou no corao das
pessoas. Foi a melhor forma de me apresentar”, assegura o cantor em conversa exclusiva com o Viver.
Logo na abertura, Chico Csar apresenta seu carto de visitas mais impactante: Beradro, uma faixa capela que anunciava que aquele no seria um disco comum. O lbum ento se desdobra em prolas marcantes na sua carreira: Mama frica, Primeira Vista, Mulher Eu Sei, Templo, Dana e A Prosa Imprpura do Caic, que, trinta anos depois, continuam a conquistar novas geraes. “Esse repertrio mostrou muito bem quem eu era como msico”, afirma.
E o mundo pareceu concordar. A rainha Daniela Mercury manifestou interesse em regravar Primeira Vista, que estourou em sua voz na novela O Rei do Gado, assim como Zizi Possi, Elba Ramalho, Vnia Abreu e Maria Bethnia, entre muitas outras que se encantaram com suas letras. Em pouco tempo, o artista que antes se apresentava para pequenas plateias em bares de So Paulo j cruzava o Atlntico para shows em Barcelona e Madri. “Foi um salto digno daqueles gols que mudam o rumo do jogo no futebol”, compara.
Parte de um movimento maior, Chico no foi um fenmeno isolado. Um ano antes, Lenine estourava nas paradas com Olho de Peixe, seu segundo lbum, lanado em parceria com Marcos Suzano. Juntos, representavam uma nova safra de artistas que renovaram a msica brasileira a partir de um mesmo eixo: o violo enraizado na tradio, mas com as antenas no futuro. “Acho que muita gente que surgiu depois olhou pra esses trabalhos e pensou: ‘esses caras abriram uma trilha”, reflete.
Nos trabalhos seguintes, ele conscientemente desfez a receita que deu certo. “Era hora de amadurecer e experimentar outras coisas”, destaca Chico, que deixou o instrumento em segundo plano at sentir que era hora de retom-lo em De Uns Tempos pra C (2006). “‘O violo brasileiro nunca sai de moda. Pode vir msica eletrnica, timbres novos, todas as experimentaes, mas quando o violo chega com sua verdade, com aquela fisgada na alma, sempre encontra o seu lugar”, crava.
O palco que o receber neste sbado testemunhou seu batismo artstico em 1995, quando Chico veio ao Recife pela primeira vez. “Aquela noite no Teatro do Parque foi uma experincia imortal. Me senti como se eu tivesse entrado, de fato, no panteo dos artistas nordestinos que eu tanto gosto e que, na poca, j irava profundamente”, recorda, citando Geraldo Azevedo, Geraldo Vandr, Raimundo Sodr e Caetano Veloso. Agora, retorna ao Parque no mais como iniciante, mas como parte dessa linhagem.