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Foto: Luan Cardoso/Divulgao |
“Um menino de 10 anos com alma de 60”. assim que Ayrton Montarroyos relembra sua infncia, embalada pelas serestas das avs e tias. Amante moda antiga do cancioneiro tupiniquim, o pernambucano condensa no aclamado A Lira do Povo, lanado ano ado, uma sabedoria precoce de quem canta com voz atemporal. Amanh, no Teatro do Parque, o artista radicado em So Paulo revisita suas razes, apresentando o lbum que j nasceu clssico na MPB contempornea.
Desde 2019, quando mostrou Um Mergulho no Nada no Teatro de Santa Isabel, Ayrton deixou de pisar nos palcos recifenses, mas nunca no corao da cidade. A cada carnaval, essa relao se renova, teimosa como um frevo que no acaba. “Brincar na folia, para mim, um respiro no meio da rotina muitas vezes massacrante em So Paulo. Minha conexo com a cidade est nessa magia”, atesta ele, em conversa exclusiva com o Viver.
Ayrton divide A Lira do Povo em trs blocos temticos, reunindo 26 canes que vo de 1914 a 2020. “Nunca tive problema com msica contempornea, minha questo com msica ruim”, observa.
Quando as cortinas do Parque se abrirem, o pblico ser refletido por um espelho circular de trs metros de dimetro, criando um efeito imersivo que dissolve as barreiras tradicionais entre artista e plateia. Ainda assim, Ayrton buscou um algo mais para diluir seu protagonismo no show. Optou por reduzir o espao para os aplausos. “Eu queria que o pblico esquecesse que estava no teatro”, argumenta.
A narrativa guiada pelo som de um trem que se aproxima, conduzindo os espectadores. O Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos, que surge pelo verso que j pressupe uma histria: “L vai o trem sem destino, pra um dia novo encontrar”. assim que a jornada se inicia, sem comeo bvio, sem aviso prvio, apenas seguindo o fluxo da msica, da memria e do tempo.